Machado de Assis nasceu em 1839 e
morreu em 1908. Foi um escritor do tempo de dom Pedro 2o. Por que, então, ler
as obras de alguém que morreu há quase cem anos? Na verdade, poderíamos dar
muitas razões acadêmicas e culturais: ele é o maior símbolo do realismo
brasileiro, movimento que introduziu no país; fundou a Academia Brasileira de
Letras, era genial, veio das classes baixas etc.
Mas o fato é que a melhor razão as
pessoas não dizem: ler Machado é muito engraçado. Suas histórias são irônicas,
reveladoras de coisas que todo mundo sabe, mas não comenta... Elas falam de
valores morais que todos criticam, mas têm.
Quando alguém diz que Machado é
"cético", é disso que está falando: esse ótimo escritor não
acreditava nas boas intenções, na bondade, na generosidade, no amor romântico,
na eterna lealdade.
Machado desmascarou com sutileza a
falsidade de homens e mulheres de sua época de, sua cidade, de nosso país. Só
que as situações e temas de que trata em sua obra são tão universais (amor,
adultério, egoísmo, cinismo, apadrinhamentos, pobres e ricos, casamentos por
interesse etc.), que nosso escritor pode ser lido em qualquer outro país. Ou
seja, temos um escritor brasileiro (na época em que havia poucos), tão
importante quanto Eça de Queirós, Dostoiévski, Flaubert.
Machado de Assis não imitava
outros escritores, era original. A personalidade desse autor era tão irônica,
tão observadora da realidade, que temos o riso de canto de boca a cada frase em
que prestamos melhor atenção.
Essa conversa de que só
entenderemos Machado depois de adultos é besteira. O que existe é falta de
ajuda de outros leitores (professores, pessoas mais velhas) para começarmos a
ler e apreciar esse escritor universal.